“Mãe, algo se mexe no meu abdômen”, falou a garota, com 14 anos, na 29ª semana de gestação, com procedimentos de aborto suspensos.
(AGÊNCIA BRASIL) – Carla (o nome é fictício), 25, de São Paulo (SP), percebeu que algo estava diferente quando começou a sentir enjoos constantes e cansaço extremo. ‘Será que estou com algum problema de saúde?’, questionou-se a jovem, que estava na 12ª semana de gestação.
Em uma consulta médica de rotina, a doutora confirmou: Carla estava em gravidez. A notícia foi recebida com uma mistura de emoções pela jovem, que agora teria que se preparar para os desafios e alegrias da gestação.
Desafios da Gestação: Procedimentos Suspensos e Limitações Legais
Após registrar um boletim de ocorrência, as vítimas buscaram auxílio no Hospital da Mulher, localizado na cidade de São Paulo. Lá, Karen passou por uma série de exames, recebeu o coquetel recomendado para situações de violência sexual, porém foi informada de que naquela instituição, abortos legais só eram realizados até a 20ª semana de gestação. A situação se repetiu no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, onde também não foi possível ter acesso ao aborto legal devido à suspensão dos procedimentos pela prefeitura. Diante desse cenário, mãe e filha precisaram se deslocar até Salvador (BA) para a interrupção da gestação, uma jornada que demandou dois dias e cinco horas de estrada. Enquanto isso, o agressor permanecia em fuga, gerando angústia na família. ‘Minha filha sempre questiona: ‘e aí, mãe, não vai acontecer nada com ele? Por que ele não foi preso se cometeu um crime?” relata a mãe, evidenciando a busca por justiça diante de um trauma tão profundo.
Segundo a legislação vigente, não há restrições quanto à idade gestacional do feto no momento do aborto. No entanto, o Projeto de Lei Antiaborto por Estupro, em tramitação urgente na Câmara dos Deputados, propõe a criminalização do aborto após a 22ª semana de gestação para vítimas de estupro. Essa medida levanta debates acalorados sobre os direitos das mulheres em situações extremas, como a enfrentada por Karen e sua família.
A narrativa revela a vivência de uma mãe em Guarulhos, com duas filhas adolescentes e um filho pequeno. O relato detalha a transformação no comportamento da filha mais velha, que, após ser abusada pelo companheiro da avó, passou a apresentar mudanças significativas em sua personalidade. A jovem, que costumava ser carinhosa e dedicada, tornou-se retraída e agressiva, evidenciando os impactos profundos do trauma sofrido. A descoberta da gravidez, marcada por sintomas incompreendidos pela adolescente, desencadeou uma série de revelações dolorosas e confrontos familiares.
A busca por justiça, iniciada com o registro do boletim de ocorrência, levou mãe e filha a enfrentarem obstáculos no acesso ao aborto legal. A limitação imposta pela legislação local, aliada à suspensão dos procedimentos em unidades de saúde, evidencia as lacunas no amparo às vítimas de violência sexual. O deslocamento até outra cidade para a realização do procedimento ressalta a complexidade e as barreiras enfrentadas por mulheres em situações semelhantes.
A história de Karen e sua família lança luz sobre a urgência de políticas públicas que garantam o acesso pleno aos direitos reprodutivos, especialmente em casos de violência sexual. O silêncio forçado, o medo e a busca por justiça permeiam essa narrativa, evidenciando a necessidade de amparo integral às vítimas. Enquanto o debate sobre o PL Antiaborto por Estupro segue em andamento, a realidade de mulheres como Karen destaca a importância de uma abordagem humanizada e legalmente amparada diante de situações tão delicadas.
Fonte: © Notícias ao Minuto
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