Leonardo Porto comenta no NeoFeed as barreiras para a inflação cair: PIB em alta, ruído fiscal, troca no BC e pressões salariais. Taxa Selic e meta fiscal estão em foco.
No mês passado, Maria da Silva, analista de mercado, alertou sobre a possível reversão do corte de juros promovido pelo Banco Central. Segundo ela, a pressão inflacionária pode inviabilizar novas reduções na taxa básica de juros. Mesmo com a expectativa de crescimento econômico, o cenário incerto está fazendo com que investidores se preparem para possíveis mudanças na política monetária.
A queda da taxa de juros é um tema que vem sendo amplamente discutido nos últimos meses, com muitos analistas apontando para um possível fim do ciclo de corte de juros. Diante desse cenário, investidores estão atentos às projeções do Banco Central e aos indicadores econômicos que podem influenciar as decisões sobre a Selic. A incerteza trazida pela inflação em alta tem deixado o mercado financeiro em alerta, aguardando novos desdobramentos.
Os desafios do cenário econômico e o corte de juros
O boletim Focus, que traz a mediana das previsões dos economistas ouvidos pelo Banco Central, está em 9% ao ano. Mas há quem coloque a taxa básica de juros perto de 8%. ‘Você junta o mercado de trabalho apertado, que deve apertar mais ainda dado o cenário de atividade econômica, a inflação que já está rodando acima do centro da meta, próximo do teto, com um quadro onde as expectativas para o médio e o longo prazos estão desancoradas do centro da meta.
O Banco Central vai ter dificuldade para cortar a taxa de juros e até justificar a continuidade do corte de juros’, diz Porto, em entrevista ao NeoFeed. Além desses fatores, o economista-chefe do Citi Brasil chama a atenção para dois pontos assimétricos que têm tudo para contribuir com uma redução mais cautelosa da Selic.
A indicação da ministra do Planejamento, Simone Tebet, de que a revisão da meta fiscal está na mesa. Para Porto, a alta do dólar nos últimos dias para a casa de R$ 5 e R$ 5,05 são sinais desse ruído doméstico. O outro ponto que vai mexer com o mercado é a primeira troca de mandato do presidente do Banco Central após independência da autarquia federal.
Análise do mercado de trabalho e do crescimento econômico
Entre os economistas, você continua entre os mais reticentes com a continuidade de queda da Taxa Selic? A nossa visão mais cautelosa em relação ao ciclo de corte de juros ainda é baseada em alguns princípios. O primeiro é que o mercado de trabalho do Brasil está bastante aquecido, já com sinais de pressões salariais.
Temos aumentos de salários nominais, hoje, rodando próximo de 9% nos últimos 12 meses no País, o que vai dificultar para o Banco Central trazer essa inflação para 3%. A condição inicial, ou como a gente costuma dizer, as condições de contorno da política monetária são de um mercado de trabalho que está aquecido e com pressões salariais latentes. Qual é o segundo ponto?
Quando olhamos para frente, tem uma interpretação equivocada das pessoas de ficar enfatizando que a economia brasileira vai crescer menos este ano. E que vai desacelerar porque a projeção anual é mais baixa. Essa é uma forma equivocada de olhar a atividade econômica porque a economia estava estagnada no segundo semestre do ano passado. O crescimento foi zero no terceiro e no quarto trimestres.
O crescimento de 2,9% do PIB no ano passado foi todo concentrado no primeiro trimestre e, principalmente, no segundo. Quando você olha nessa frequência trimestral, a economia brasileira vai acelerar o crescimento.
Dadas as condições de contorno e as condições iniciais de mercado de trabalho apertado, quando olhamos o cenário prospectivo, vemos a economia reacelerando com um cenário de mercado de trabalho já apertado. ‘Quando olhamos o cenário prospectivo, vemos a economia reacelerando’ Mas esse mercado de trabalho em expansão não chegou ao topo? Ele vai apertar mais ainda.
As pressões salariais não devem aliviar, elas devem se intensificar. Essas duas condições nos apontam para uma situação de cautela. Em paralelo, você tem uma inflação que não roda ainda no centro da meta. Se você pegar 12 meses, ela está na casa de 4,5%, que é o teto da meta. As medidas de núcleo, na nossa conta, estão rodando entre 4% e 4,5%.
Ou seja, há uma tendência da inflação rodando acima do centro da meta. E, ao mesmo tempo, na medida em que a gente anda mês a mês, vemos a projeção de inflação dos analistas de mercado, que a expectativa do Focus, parada há um tempão em 3,5%, nos horizontes mais longos. O que isso quer dizer?
São condições que vão dificultar muito a capacidade do Banco Central de trazer essa inflação para 3%, que é o mandato dele. Você junta o mercado de trabalho apertado, que deve apertar mais ainda dado o cenário de atividade, a inflação que já está rodando ac…
Fonte: @ NEO FEED
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