Izabel Rodrigues quebrou estereótipos da infertilidade por alteração genética, desafiando divisão celular atípica. Superou doenças crônicas com autonomia no mercado de trabalho.
Durante uma rotina de consultas médicas, a professora aposentada Maria Alves, de 60 anos, foi surpreendida com o diagnóstico de síndrome de Down. Na época, ela tinha 40 anos e estava casada há 15 anos.
Maria jamais imaginou que seu filho poderia nascer com mongolismo. A notícia foi um choque para a família, que precisou se adaptar a uma nova realidade.
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Desafios da Consulta Médica em Caso de Síndrome de Down
Queria muito ser mãe e, diante da dificuldade de conseguir engravidar, com a ajuda de um dos irmãos procurou um especialista para investigar sua possível infertilidade, sem nunca ter suspeitado da alteração genética causada por uma divisão celular atípica, que resulta na trissomia do cromossomo 21.PUBLICIDADEAo ser avaliada, Izabel ouviu do médico que não poderia ser mãe porque tinha ‘mongolismo’ – um termo pejorativo usado há muitos anos para falar sobre alguém com síndrome de Down.
De fato, há poucos registros de casos de mulheres com Down que se tornam mães (a diminuição da fertilidade é uma das consequências da síndrome, principalmente em relação aos homens), mas Izabel contrariou as evidências científicas e, menos de um ano depois da consulta, se tornou mãe de Cristinna, uma menina sem Down, e hoje é avó de três crianças.A dona de casa cresceu e viveu boa parte da vida sem o diagnóstico.
Ela conta que isso aconteceu provavelmente por viver na zona rural de Morrinhos, no interior de Goiás, e ser a caçula de 19 filhos.Izabel com o marido, a filha Cristinna e os netos. Foto: Arquivo pessoal’Ela morava na roça e era a caçula de uma família gigantesca.
As dificuldades comuns em pessoas com a síndrome, como dificuldade para começar a andar ou a falar, eram atribuídas ao fato de ela ser a criança mais nova e ser muito mimada. Diziam que ela demorou a andar porque toda hora estava no colo de alguém.
Demorou a falar porque alguém sempre respondia por ela’, conta a administradora de empresas Cristinna Maria Cândida da Silva, 33 anos, filha de Izabel.Segundo Cristinna, outras características comuns em crianças com a síndrome, como rosto mais arredondado, olhos mais puxadinhos, mãos pequenas e deficiência intelectual, nunca foram notadas pelos familiares e passaram despercebidas, justamente porque eram pessoas muito simples.’Eles viviam na roça, praticamente sem acesso à saúde.
Minha mãe é baixinha, então as mãos dela eram pequenas e nunca chamaram a atenção. Ela chegou a frequentar aulas do grupo escolar rural, mas, como não conseguia acompanhar a turma, parou de estudar. Minha avó ensinou minha mãe a se tornar uma boa dona de casa.
Hoje ela conhece as vogais e sabe escrever o meu nome e o dela’, conta a filha.Como nunca desconfiou ter síndrome de Down, Izabel cresceu dentro daquela comunidade rural, recebendo os estímulos caseiros.
‘Quando ela não conseguia fazer alguma coisa, minha avó insistia e ensinava até ela aprender’, conta a filha da dona de casa.PublicidadeLeia tambémOssos de bebês ancestrais: cientistas encontram assinatura genética da síndrome da DownÀ medida que foi ficando mais velha, a deficiência intelectual passou a ficar mais evidente.
‘As pessoas começaram a perceber que ela era diferente e começaram os comentários de que ela não era muito certa da cabeça.
Às vezes, ela sai um pouco do ar, não se expressa de forma muito clara, mas nada disso a impediu de construir uma família’, diz Cristinna.A filha conta que Izabel teve outros relacionamentos, mas se apaixonou mesmo pelo seu José, que, por acaso, também é parte daquela família gigante (ele é primo de Izabel).
Os dois se casaram quando ela tinha 26 anos e logo se mudaram para a cidade – ele foi trabalhar na prefeitura e ela ficou cuidando da casa.
O diagnóstico de síndrome de Down veio oito anos depois, confirmado pelo exame clínico e alguns anos mais tarde pelo exame de cariótipo (um exame que avalia os cromossomos das pessoas).A gravidez de Izabel transcorreu dentro da normalidade da época – com pouquíssimas consultas de pré-natal e sem ultrassonografia –, mas no final ela teve pré-eclâmpsia, o que fez o parto ser antecipado.
Cristinna nasceu em abril de 1990 e cresceu sob os cuidados da mãe, mesmo com as limitações que ela tinha. ‘Para mim, minha mãe sempre foi igual às mães de todo mundo.
Não tenho recordação nenhuma de que algo na minha infância tenha sido diferente’, conta.Quando Cristinna estava um pouco mais velha, durante uma aula de ciências no ensino fundamental, a professora explicava sobre a síndrome de Down. Cristinna levantou a mão em sala e disse: ‘Minha mãe tem essa síndrome’. Ela foi desacreditada pela professora, que falou que não era possível.
‘Fiquei incomodada e fui pesquisar mais a respeito. Vi que a expectativa de vida das pessoas com Down era de cerca de 35 anos e a mamãe estava com mais de 40″, conta.Mesmo com síndrome de Down, Izabel se tornou uma mulher independente, que cuidou da casa, da filha e dos netos.
Foto: Arquivo PessoalLongevidade com a CondiçãoCONTiNUA APÓS PUBLICIDADEEstudos internacionais apontam que, nos últimos 40 anos, a expectativa de vida de pessoas com Down aumentou consideravelmente. Na década de 1920, girava em torno de nove anos. Na década de 1980, aumentou para entre 25 e 30 anos. Hoje em dia está entre 60 e 65 anos.
As pessoas com Down estão cada vez mais long…
Avanços na Medicina em Caso de Síndrome de Down
‘);?>’Não existem estatísticas oficiais sobre o número de brasileiros com síndrome de Down.
O que se sabe é que a síndrome é a ocorrência genética mais comum que existe e acontece em cerca de 1 a cada 700 nascimentos.
Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 1.978 nascimentos de crianças com Down em 2021 no Brasil.O mês de março é marcado pela campanha sobre a importância da conscientização da população sobre a condição, a inclusão e a busca pelas mesmas oportunidades educacionais e sociais para todos.
Neste ano, o tema da campanha, oficialmente comemorada no dia 21, foi ‘Fim dos estereótipos’.’As pessoas com Down vivem no meio de estereótipos a vida toda.
No folder da campanha, vários jovens relatam situações que passam no dia a dia em que suas capacidades são questionadas’,…
Fonte: @ Estadão
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